Bem, é que torço pelo touro. Todo o espetáculo, toda a estrutura é para que o toureiro vença, mesmo assim, eu torço pelo touro. É mais justo, e não há o mínimo espanto, quando algumas vezes, talvez pelo excesso de confiança do toureiro, de que nunca vai perder, o touro o ergue.
Quando falo de espanto, é facial, a cara que um homem faz ao acertarem o saco de outro homem, acontece aí uma solidariedade masculina. Quando o touro ergue o toureiro, se dá uma solidariedade tipicamente humana, como se o touro, também os atingisse. Espanto. Dor. Eu não os tenho, ao contrário, o que sinto é um comprazimento e o sentimento de que a justiça foi feita.
O touro, mesmo que momentaneamente ganhou uma. Reagiu. Isso é um direito do touro e de qualquer um que seja oprimido. Viva o touro (que sem ter lido Marx), levanta o toureiro, desmanchando no ar a sua solidez.
Por Jorge Fróes
sexta-feira, 22 de abril de 2011
Um poema de horror
Pelo caminho
crianças imploram carinho
a mulher cansada pensa em aborto
mendigos morrem de frio
um bêbado caído na calçada.
Eu vou para casa
ligo a tv e dou risada.
Por Jorge Fróes
crianças imploram carinho
a mulher cansada pensa em aborto
mendigos morrem de frio
um bêbado caído na calçada.
Eu vou para casa
ligo a tv e dou risada.
Por Jorge Fróes
Pedaços
as pessoas são pedaços
algumas têm mais
outras menos
são assim são assado
como (parte) algo a ser encontrado
tortas e mesmo erradas
nem boas nem más
as pessoas são o que são
pedaços pão bolo melancia
madeira terra carne
alberto caeiro pessoa (porção)
fragmentos nos quais me encaixo
pedaços dos quais eu acho
Por Jorge Fróes
algumas têm mais
outras menos
são assim são assado
como (parte) algo a ser encontrado
tortas e mesmo erradas
nem boas nem más
as pessoas são o que são
pedaços pão bolo melancia
madeira terra carne
alberto caeiro pessoa (porção)
fragmentos nos quais me encaixo
pedaços dos quais eu acho
Por Jorge Fróes
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Os girassóis cegos
Agora sabemos que o capitão Alegria escolheu sua própria morte às cegas, sem olhar o rosto irado do futuro que espera as vidas traçadas ao revés. Escolheu extinguir-se sem paixões nem sobressaltos, sem erguer o tom da voz a não ser no momento em que atravessou o campo de batalha com as mãos levantadas tão-somente para não parecer suplicante, e diante de um inimigo incrédulo, gritar muitas vezes: "Sou um rendido!". Sob um ar morno, transparente como um aroma, Madri anoitecia num silêncio melancólico alterado apenas pelo estrondo abafado dos obuses caíndo sobre a cidade em cadência litúrgica, não bélica. "Sou um rendido". Durante duas ou três noites, é o que nos consta, o capitão Alegria esteve definindo esse momento. É provável que se negasse a dizer "eu me rendo", porque essa frase responderia a algo congelado num instante, quando a verdade é que ele fora se rendendo pouco a pouco. Primeiro se rendeu, depois se entregou ao inimigo. quando teve oportunidade de falar sobre isso, definiu seu gesto como uma vitória ao revés. "Embora todas as guerras sejam pagas com os morto, faz tempo que lutamos por usura. Teremos de escolher entre ganhar uma guerra ou conquistar um cemitério", concluia numa carta que escrevera à sua namorada Inês em janeiro de 1938. Agora sabemos que ele, sem saber, tinha recusado de antemão ambas as opções.
Fragmento do conto Primeira derrota 1939 ou Se o coração pensasse, deixaria de bater, escrito por Alberto Méndes, escritor espanhol.
Fragmento do conto Primeira derrota 1939 ou Se o coração pensasse, deixaria de bater, escrito por Alberto Méndes, escritor espanhol.
sábado, 2 de abril de 2011
Ei, professor
"Dez anos dando aula, trinta e oito anos de idade, e se eu tivesse de me avaliar eu diria, Você está fazendo o melhor que pode. Há professores que lecionam e não dão a menor bola para o que os alunos pensam sobre eles. A matéria do programa é tudo o que interessa. Esses professores são poderosos. Dominam suas turmas com uma personalidade respaldada pela grande ameaça: a caneta vermelha que escreve no boletim o temido Insuficiente. Sua imagem para seus alunos é, Eu sou o seu professor, não o seu conselheiro, não o seu confidente, não o seu pai. Ensino a matéria: você pega ou não pega.
"Muitas vezes penso que eu deveria ser um professor durão, disciplinado, organizado, que se atém ao seu objetivo, um John Wayne da pedagogia, mais um professor irlandês que brande com ar ameaçador sua vara, a sua bengala, a sua chibata. Professores durões entregam sua mercadoria durante quarenta minutos. Tratem de digerir essa aula, moleques, e estejam preparados para vomitar tudo no dia da prova.
"Às vezes eu brinco, Sente aí nessa cadeira, garoto, e fique quieto, senão eu vou partir a sua cabeça dura, e eles riem porque sabem. Puxa, ele tem cada uma. Quando eu me finjo de durão eles ficam ouvindo sossegado, até que passe o ataque. Eles sabem.
"Não vejo uma turma como uma unidade sentada à minha frente e me dando atenção. Há rostos que mostram graus variados de interesse e de indiferença. O que me desafia é a indiferença. Por que esse sacana está ali conversando com ela quando devia estar prestando atenção no que eu estou falando? Desculpe, James, tem uma pessoa aqui na frente dando aula.
"Ah, tá legal, tá legal.
"Há momentos e há fisionomias. Os alunos podem ser tímidos demais para nos dizer que a aula foi boa mas pela maneira como saem da sala de aula e pela maneira como olham para você a gente percebe se a aula foi um sucesso ou algo a se esquecer. As expressões de aprovação aquecem o coração da gente no metrô para casa".
Esse foi um trecho do livro "Ei, professor", do escritor novaiorquino e bem irlandês Frank McCourt.
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