segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Natal em família


Meu pai contou-me esta história. Ela aconteceu no começo dos anos 20, em Seattle, antes do meu nascimento. Ele era o mais velho de seis irmãos e uma irmã, alguns dos quais haviam saído de casa.

As finanças da família estavam péssimas. O negócio do meu pai fora à falência, quase não havia empregos e o país estava perto de uma depressão. Naquele ano, tínhamos uma árvore de Natal, mas nada de presentes. Simplesmente não podíamos comprá-los. Na véspera do Natal, fomos dormir deprimidos.

Entretanto, quando acordamos na manhã do Natal, havia um monte inacreditável de presentes sob as árvores. Tentamos nos controlar no café-da-manhã, mas foi a refeição mais rápida de nossas vidas.

Então a diversão começou. Minha mãe foi a primeira. Ficamos em volta dela, na expectativa, e quando ela abriu seu pacote vimos que ganhara um velho xale que ela havia "posto em lugar errado" vários meses antes. Meu pai ganhou um machado velho, com o cabo quebrado. Minha irmã ganhou seus velhos chinelos. Um dos meninos ganhou uma calça remendada e amassada. Eu ganhei um chapéu, o mesmo que achava que havia deixado num restaurante um mês antes.

Cada coisa velha trouxe uma nova surpresa. Não demorou para que todos estivéssemos rindo tanto que mal conseguíamos abrir os pacotes. Mas de onde viera toda aquela generosidade? De meu irmão Morris. Durante meses, ele escondera coisas velhas, das quais sabia que não daríamos falta. Então, na véspera de Natal, depois que todos foram para a cama, ele embrulhara em silêncio os presentes e os pusera sob a árvore.

Foi um dos melhores Natais que tivemos.

Don Graves (do livro "Achei que meu pai fosse Deus", organizado por Paul Auster)